segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Á PROCURA DE ESPAÇO

À procura de espaço

Falta de moradia faz crescer a verticalização das favelas

MAURO WEDEKIN

Com uma população de cerca de 3 mil pessoas, 27 andares e 700 apartamentos, o Edifício São Vito, localizado no centro velho de São Paulo, parece uma cidade.

O prédio, que foi construído há 45 anos, é um dos exemplos mais antigos da verticalização das moradias populares no Brasil. "O São Vito é um modelo extremo desse fenômeno, que vem ocorrendo em prédios das principais cidades brasileiras há anos.

Mas é na favela onde realmente se vêem as casas crescendo para cima", revela a professora Ermínia Menon Maricato, diretora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo .

A verticalização dos domicílios é característica de locais onde se amontoam barracos de poucos cômodos, habitados por várias pessoas de uma mesma família ou não.

A dona de casa Laudenice Maria dos Santos, de 31 anos, vive nessa situação com os dois filhos e o marido. Ela é moradora da Favela de Heliópolis, a maior de São Paulo, com 80 mil habitantes. "Quando cheguei aqui, há 19 anos, os barracos só tinham um andar..


Agora, parece que as pessoas estão procurando o céu", fala, sorrindo. A casa de Laudenice, que tem três cômodos, fica no segundo andar e foi construída há 5 anos. No terceiro andar mora seu irmão, com a família.
De acordo com Ermínia, até a década de 80, as habitações tinham apenas um pavimento.

Hoje, há favelas com moradias de três e até quatro andares .

Está dificílimo crescer horizontalmente, porque os espaços já foram ocupados ou estão servindo à especulação imobiliária. "Em alguns lugares, principalmente aqueles que ficam em regiões centrais, mais valorizadas, observa-se o adensamento brutal da população carente.

Isso acontece porque ali as pessoas têm facilidade de transporte e acesso aos serviços públicos, como postos de saúde e escolas", explica a professora, que acaba de concluir um estudo sobre favelas em cinco cidades brasileiras: Fortaleza, Diadema, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia.

As primeiras informações do levantamento, em São Paulo, de cada cinco habitantes, um é favelado. Na capital do Ceará, Fortaleza, 30% da população reside em barracos ou cortiços.

O aproveitamento do espaço urbano por meio da verticalização das moradias, segundo Attílio Piraíno Filho, coordenador de desenvolvimento da Secretaria da Habitação da prefeitura de São Paulo, é uma necessidade dos grandes centros urbanos.
Questão de oferta e procura, que eleva às alturas o preço dos terrenos.


Essa falta de opções habitacionais estimulou o surgimento de movimentos organizados, como a União dos Movimentos de Moradia (UMM), atualmente em evidência por ter coordenado em outubro a invasão de seis prédios em São Paulo, inclusive o do Tribunal Regional do Trabalho, cujas obras estão paralisadas há mais de um ano sob suspeita de desvio de verbas.

"Na década de 80, em São Paulo, os trabalhadores excluídos pelo governo resolveram em parte o problema da habitação ocupando a região da periferia. Hoje, no entanto, não temos mais para onde ir. Por isso, organizamos a ocupação de prédios abandonados ou inacabados", esclarece o coordenador da UMM, Sebastião Alves de Oliveira Júnior, o qual avisa que as invasões vão continuar.

Diante de tanto descaso, acredita Sebastião, o único caminho a seguir é planejar novas ocupações. "Só lutamos por um direito que está na Constituição", justifica-se.

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