segunda-feira, 18 de outubro de 2010

OUTRAS SOLUÇÕES

Outras Soluções

Por outro lado, a partir de 1912 são numerosos os loteamentos para quem conseguisse adquirir terreno em áreas recém-abertas e construísse sua casa por etapas (autoconstrução) nos arrabaldes da cidade (Lapa, Freguesia do Ó, São Bernardo, Penha): «Terrenos em lotes na Lapa — Pagamento e prestação.
Tais loteamentos eram adquiridos por empreendedores para construção de vilas ou cortiços, ou os lotes, a trabalhadores que por autoconstrução ou mesmo mão-de-obra paga edificavam sua casa própria.
 A prestação  correspondia às vezes ao aluguel de uma casinha ou cômodo e cozinha. Muitos desses proprietários alugavam parte de sua casa para diminuir a prestação para amortização da dívida.
Assim, a cohabitação existia em vários tipos de habitação popular, não apenas nos cortiços do Brás, Bexiga e Bom Retiro. E muitos desses moradores acabaram se tornando investidores no ramo da moradia coletiva, reproduzindo o adensamento de habitações até nesses arredores da cidade.
. A situação de moradia, a proximidade do mesmo grupo étnico no mesmo espaço, a concentração de operários, as ideias anarquistas e socialistas trazidas com os imigrantes, a língua, os hábitos, tudo levou a que o componente espacial influísse também nos movimentos operários.
Os bairros operários (e industriais) se instalaram quase em semicírculo em volta da colina central da cidade, na qual se implantaram o centro comercial e os bairros de classes altas (Higienópolis, Jardins).  entrava pelas narinas dos passantes, despertando apetite.

A partir da década de 50 começará a transformação e sua chamada «deterioração », pelos processos de diversificação industrial de metrópole, à incorporação de novas áreas ao tecido central, com o afastamento das indústrias para outras regiões da cidade e fora dela (expansão rodoviária) e pela expansão do sistema viário.
O metrô, na década de 70, deu o golpe decisivo: desapropriações, expulsão dos pobres e a retirada dos de melhor renda atingiu a trama urbana, com amplos terrenos vagos durante dez anos. Em 1989, a Cohab oferece seus quase 3000  apartamentos para as classes de renda média.

O uso residencial continua coexistindo com os demais, porém esvaziado, e com nítido processo de encortiçamento, havendo inúmeros prostíbulos e albergues, pensões, que abrigam não só migrantes recém-chegados nas estações ferroviárias, como cada vez mais amplos setores pauperizados.

A população também foi alterada: o imigrante europeu foi substituído pelo brasileiro — notadamente nordestinos.

Muitos saíram da área espontaneamente. O espaço urbano carrega em si, pois, as marcas do passado, um certo confronto entre tradição e modernidade.
A história se evidencia no traçado, nas edificações, monumentos, nas atividades e nos hábitos de seus velhos moradores, abarcando a singularidade do cotidiano.
E a modernidade se expressa nas novas exigências feitas pelas novas atividades econômicas, novos estilos de vida urbana. Novos habitantes, novas marcas, a condição moderna exige novas escolhas individuais e sociais e estas são, por sua vez, moldadas pelo conjunto cultural, inclusive pelas tradições. A organização sócio-espacial traz as marcas dessa herança cultural e é acrescida de novos usos e interpretações.
                                                                          

Dessa forma, a cidade — as ruas, praças, equipamentos — e a casa (unifamiliar ou coletiva) materializam espacialidades que expressam memória, formas de sociabilidade.
A memória liga o cidadão ao seu cenário.
 O Brás, em duas épocas distintas, foi habitado por moradores «desenraizados», «expulsos», de sua «pátria», saudosos E o cenário urbano traz a marca dessa apropriação, construção e reconstrução.
Os cortiços permanecem como documentando os traços característicos da
habitação popular na cidade industrial.

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