segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CORTIÇO

Cortiço: uma realidade velada

Você já se imaginou morando em um casarão antigo, dividindo banheiros e sem privacidade dentro da própria casa? Pois essa é a realidade de aproximadamente 408 mil brasileiros que vivem em cortiços, segundo dados divulgados recentemente pelo IBGE.

Considerado a forma de habitação proletária mais antiga do Brasil, o cortiço tem seu surgimento atrelado aos primórdios da industrialização ocorrida no final do século XIX. “Essa forma de habitação surge como a mais viável para o capitalismo nascente reproduzir a classe trabalhadora a baixos custos.

Estima-se que a terça parte das habitações existentes em São Paulo, no início do século XX, era composta de cortiços”.

Os primeiros moradores dos cortiços viviam em grandes casarões subdivididos em vários cômodos, posteriormente alugados ou cedidos às famílias de baixa renda. Na época essas moradias eram completamente insalubres, sujas e apresentavam condições precárias favoráveis à proliferação de doenças contagiosas, como febre amarela, sífilis e varíola.

Décadas depois, mesmo após todo o desenvolvimento socioeconômico e tecnológico da sociedade, essa precária moradia se mantém viva. Aparentemente a única mudança foi a sua denominação, alterada para Habitação Coletiva Precária de Aluguel .
As famílias ocupantes desse tipo de moradia continuam sem ter direito à cozinha, a banheiro próprio, ao uso do quintal e à água canalizada, e são obrigados a fazer do único cômodo que dispõem sala, quarto, cozinha e banheiro.

Apesar de toda essa precariedade, o metro quadrado do cortiço é o mais caro da cidade de São Paulo.

. Os encortiçados pagam, portanto, 21,5% mais que pessoas da classe média alta, instaladas em propriedades mais amplas que os 10m² médios das áreas centrais.

Para a arquiteta Alessandra D’Ávila Vieira, autora do livro “A problemática dos cortiços em São Paulo", os encortiçados se submetem a esse quadro de precariedade, pois a maioria deles estão instalados nos centros das cidades.


“A proximidade com o centro e, com isso, com toda a sua infraestrutura social e urbana justifica a escolha desses locais”. A arquiteta ainda explica que morar no centro significa economia na despesa de transporte e menos tempo de viagem entre a moradia e o trabalho.
Apesar de esquecidos e desvalorizados ao longo dos anos, os cortiços ainda são a única opção para muitas famílias que optam por continuar nas áreas centrais das cidades.

A diminuição dessas moradias pode indicar o desaparecimento dos cortiços, mas na verdade a população que saiu desses lugares migrou às favelas conforme se tem notado na evolução .
“Com o tempo, os cortiços são expulsos do centro para as periferias: forma-se o embrião das favelas.”
Os bairros centrais são os mais indicados para os governantes trabalharem a questão do déficit habitacional mais adequadamente.

No entanto alguns governos insistem em investir no alongamento das cidades, por interesses do mercado imobiliário, que se beneficia com a valorização de um centro sem pobreza e de novos pontos de infra estrutura afastados do centro que permitem a criação de condomínios e prédios.

Elementos parciais retirados da tese de doutourado de
Maura Pardini Bicudo Véras

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